quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Paradoxos do RH

O desenvolvimento dos Recursos Humanos nas organizações enfrenta alguns paradoxos. O primeiro paradoxo é que, em geral, as empresas declaram que as pessoas são o seu recurso mais precioso. Entretanto, as áreas de Recursos Humanos raramente fazem parte dos escalões mais altos de direção. Talvez porque sendo o lucro a finalidade da empresa, as pessoas são apenas instrumentos funcionais (funcionários) dos processos de produção de riqueza, enquanto as áreas de RH, dada sua vertente psicológica, podem querer priorizar o desenvolvimento das pessoas enquanto tais e não apenas como funcionários. Mas pessoas mais maduras e mais felizes podem sim produzir mais. Então, as empresas investem no desenvolvimento das pessoas sim.

Um segundo paradoxo diz respeito à avaliação do resultado do investimento no desenvolvimento das pessoas. Desenvolvimento é sinônimo de aprendizado, e o aprendizado de habilidades comportamentais vai além do treinamento em habilidades técnicas. Normalmente, as empresas investem no treinamento e no desenvolvimento pessoal de seus colaboradores, mas só avaliam o custo do investimento e a satisfação dos participantes. Assim, muitas vezes, pela falta de um instrumento que possa medir o seu retorno, o treinamento é encarado como um benefício a ser agregado ao custo de pessoal e não como um investimento que traga retorno.
O instrumento tradicional de avaliação de reação em um treinamento mede apenas a satisfação imediata dos participantes, fortemente influenciada pelas emoções suscitadas pelo processo. Assim, um evento do tipo “show” tende a ter uma melhor avaliação do que um processo mais longo de aprendizado autogerenciado de ensino à distância (EAD), mesmo que o seu resultado final em termos de mudança comportamental seja comparativamente menor.

A PowerSelf desenvolveu um método de avaliação dos resultados efetivos do aprendizado através de indicadores. Em dois anos de aplicação e aprimoramento constante, os indicadores orientaram a consolidação de nossa Trilha de Aprendizado, constituída por uma série de serviços antes e depois do curso presencial. São três indicadores: Aproveitamento, Ganho e Responsividade. O Aproveitamento de uma turma é o percentual de participantes com mudanças efetivas reportadas por eles e/ou seus apoiadores. O Ganho é uma avaliação quantitativa da melhora percebida com a mudança comportamental. Este ganho percebido é uma avaliação subjetiva sim, como de resto toda avaliação o é, mas sem dúvida, é uma medida da melhoria da produtividade pessoal. A Responsividade mede o engajamento do participante no processo de aprendizado, funcionando como uma avaliação de desempenho progressiva.

Aproveitamento é o indicador mais importante da efetividade de um treinamento. Buscando melhorá-lo aprimoramos o processo da Trilha. De fato, de uma média de 35% no início de 2014, chegamos a 80% em meados de 2016. Isto é, 80% dos participantes da Trilha percebem ganhos significativos, ao redor de 50%, no seu desempenho. A Responsividade, implantada somente no fim de 2015, tem variado entre 60% e 70%. O indicador de Ganho permite que se tenha uma medida do retorno do investimento, supondo que o Ganho se dá sobre a Produtividade de Pessoal, dada pela relação entre margem bruta e massa salarial. No cálculo, consideramos apenas os participantes com ganhos relatados. Caso a empresa não acompanhe o indicador de produtividade de pessoal, supomos que a produtividade dos participantes antes do processo de aprendizado fosse de 2,5 vezes o seu salário – uma produtividade baixa, já que só o custo de um trabalhador no Brasil é de 2 vezes o seu salário. Quanto maior a produtividade anterior, mais rapidamente retornaria o investimento, pois se está medindo o ganho em relação a ela. 

O aumento de produtividade das pessoas pode não se traduzir num retorno financeiro imediato para a empresa, pois este depende de muitos outros fatores e também porque as pessoas que participam do processo podem representar uma parcela pequena do total de colaboradores, mas, de qualquer maneira, trabalhar consistentemente com indicadores que traduzam o resultado residual efetivo do treinamento é uma forma muito melhor de avaliar o investimento em pessoal do que a tradicional avaliação de reação.

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