sábado, 30 de julho de 2016

Conflações

 A filosofia usa palavras para falar... do significado das palavras. E cria palavras para explicar... novos significados. Uma delas é conflação: a falácia lógica de tratar conceitos distintos como se fossem um. E conflacionamos muito!

Por exemplo, o termo ‘poder’ conflaciona o ‘poder de’ fazer algo (capacidade, potência, agência) com o ‘poder sobre’ outras pessoas (influência, comando, domínio). À primeira acepção subjaz a ideia de cooperação, a segunda evoca conflito – nada mais distinto.

Outro exemplo: ‘verdade’. Há pelo menos quatro significados de verdade. Um deles é aletheia - a revelação da verdade oculta. No platonismo a verdade está num mundo ideal do qual a realidade é uma cópia imperfeita. A busca desta verdade, que se revela por trás das aparências da realidade, é o moto da pesquisa científica. Conhecimento (episteme) é a crença que corresponde a esta verdade e que justifica essa correspondência, sustentando suas razões pela argumentação lógica. Conhecimento não é mera opinião (doxa), essa crença baseada na intuição das aparências e que se justifica apenas pelo hábito.

A palavra grega parresia enuncia outro conceito de verdade: a verdade do discurso ou franqueza. O dizer a (sua) verdade a qualquer custo e sem outra finalidade é uma virtude, um dever e uma capacidade - quase uma técnica. Virtude da franqueza, da transparência, honestidade de quem nada esconde. Dever de respeitar a verdade que se justifica e mudar de opinião. Capacidade de convencer pela mera enunciação da verdade, sem usar recursos da retórica.

A palavra latina veritas traz uma terceira acepção: a verdade do registro – rigor e exatidão. Veritas é a veracidade do registro da realidade, que observa e descreve; que infere, não prescreve, não julga nem avalia, não ordena nem condena. O registro é verdadeiro quando exato: não manipulado, nem distorcido. E se verifica verdadeiro se confirmado pela experiência. Esta verdade também é cultivada pela ciência objetiva.

A quarta noção de verdade é dada pela palavra hebraica emunah: a verdade da fé ou confiabilidade. É a crença na promessa, fidelidade à palavra divina e à palavra empenhada. Convicção inata, independente da razão.

Onde então está a verdade do poder? Que confusão de conflações!

sábado, 23 de julho de 2016

Desafio aos gaúchos

Quem pensa o presente sobrevive. Quem pensa o futuro cria e produz. Os setores que produzem e criam bens materiais e culturais são os maiores responsáveis pela nossa situação daqui a 20 anos.
A pesquisa é uma das, senão "a" atividade mais portadora de futuro. A FAPERGS propõe que os setores produtivos e criativos da sociedade gaúcha parem um pouco de pensar apenas em termos de sobrevivência e assumam sua responsabilidade pelo futuro, discutindo prioridades para a pesquisa no Estado.
A proposta é eleger 10 setores prioritários para fomento. Espera-se que a própria discussão alavanque o interesse por estes setores. O pontapé inicial foi dado pelo Conselho Superior na minuta de um documento que elenca 12 setores e 8 princípios orientadores da discussão. Esta minuta está completamente aberta a sugestões de reformulação até o dia 30/10/16 e, necessariamente, precisará cortar 2 setores da lista, pois priorizar significa discriminar.

A opinião que critica o que foi feito é reação fácil. A opinião que se responsabiliza por criar é iniciativa difícil. A proposta da FAPERGS é uma oportunidade e um desafio. Um desafio aos gaúchos que pensam o futuro e uma oportunidade de moldá-lo para aqueles que o viverão. Somos capazes de iniciativa ou só temos tempo para lamento e crítica?