segunda-feira, 25 de maio de 2009

Introdução - O que você encontra neste livro?

Mesmo escolhendo consciente e racionalmente o caminho do auto-aperfeiçoamento é difícil segui-lo e manter-se nele. O uso de ferramentas facilita o trabalho e a disciplina necessários. As ferramentas, no caso, compõem um Sistema de Planejamento Pessoal (SPP). É preciso conhecê-las bem para melhor utilizá-las. Assim, este volume em parte é um livro e em parte um manual de uso de um SPP. Um livro é escrito para ser lido seqüencialmente. Já um manual é feito para ser consultado aleatoriamente quando necessário, embora também devesse ser lido todo. O roteiro a seguir visa orientar o leitor na leitura do livro e na consulta ao manual.

O primeiro capítulo é livro puro e caracteriza o problema do tempo na vida moderna. Quais fatores fazem com que, cada vez mais, nos comportemos como escravos do tempo.

Depois de caracterizar o problema, o manual da solução inicia no segundo capítulo. Mostra-se o que é um Sistema de Planejamento Pessoal e porque o seu uso adequado ajuda a nos tornarmos menos escravos do tempo.

O capítulo III é livro de novo, mas é uma parte fundamental para compreender o manual. A partir de uma reflexão sobre o tempo, mostra-se que administrá-lo é essencialmente definir prioridades. Analisam-se os conceitos de prioridade, urgência e importância, bem como diversos métodos de priorização e propõe-se o método ABC como o mais adequado. Por fim, mostra-se que a administração do tempo consiste, essencialmente, na capacidade de agir conscientemente e como a nossa tendência natural para a reatividade dificulta essa tarefa. Nesta edição, retirei deste capítulo as dicas para vencer a tendência à protelação, passando-as para o novo capítulo VI.

O capítulo IV propõe uma série de reflexões e exercícios sobre as questões que constituem a pedra fundamental da disciplina em relação ao tempo e à vida. Nele você encontra dicas e orientações para descrever e priorizar seus valores fundamentais, identificar seus papéis significativos e fazer uma declaração de missão pessoal.

O capítulo V introduz o conceito de Planejamento como processo em quatro níveis: político, estratégico, tático e operacional. O manual prático aqui se aplica ao horizonte de tempo mais longo ou profundo, na definição de metas pessoais.

Como já disse, a maior modificação desta nova edição está no horizonte tático do dia-a-dia, ao qual é dedicado o capítulo VI. A partir de uma análise detalhada, são dadas dicas objetivas, com formulários que ajudam a planejar o dia-a-dia, a lidar com o imprevisto e evitar o acúmulo de pendências.

O capítulo VII, que trata do planejamento estratégico ainda está em fase de revisão. Pretendo agregar aos conceitos da Gerência de Projetos segundo o paradigma da cascata de fases, que já aparecia na primeira edição, os conceitos dos métodos ágeis, bem como algumas considerações oriundas da minha experiência na gestão de equipes para a realização de projetos complexos.

Finalmente, o capítulo VIII se volta para o presente. Defende-se o ponto de vista de que anotar é a melhor forma de prestar atenção ao presente que efetivamente acontece e de recuperá-lo como passado imediato. Mostra-se que o que acontece no dia-a-dia é uma série de contatos que envolvem troca de informação e analisam-se os tipos de informação bem como as formas de organizá-la.

O livro termina com dois apêndices para aqueles que têm um pendor mais filosófico e queiram conhecer as bases que fundamentam muitos dos conceitos expressos ao longo do livro. No primeiro, são analisadas várias visões conceituais sobre o tempo. No segundo, fala-se um pouco sobre a ética, como filosofia da ação e dos valores.

Você pode usar este livro para aprender a realizar mais em menos tempo e ser mais eficiente no trabalho. Já relatei que esta foi também a minha motivação inicial quando, em 1987, participei de um primeiro curso de Administração do Tempo. Muitos que escrevem sobre este tema adotam o paradigma da eficiência, ensinando técnicas de organização voltadas para a vida profissional. Não descarto a validade e a importância dessas técnicas, que também fazem parte deste livro, mas prefiro a escola da eficácia. Segundo esta vertente, a administração do tempo é uma questão vital que abarca todas as esferas da vida de um indivíduo e não apenas a dimensão profissional. Minha experiência tem demonstrado que a disciplina de administrar o tempo dentro do paradigma da eficácia (fazer o que importa ao invés de fazer mais) é uma excelente ajuda na vida pessoal, produzindo mais realização e felicidade. Portanto, espero sinceramente que este livro e o sistema PowerSelf possam ajudar muitas pessoas a serem mais eficazes em suas vidas, de modo integral.

Nas livrarias e bibliotecas, os autores da escola da eficiência serão encontrados, provavelmente, na estante de livros sobre administração. Já os livros da escola da eficácia, podem estar na estante de administração, na de psicologia, filosofia ou na dos livros de auto-ajuda. À semelhança desses autores, acredito que a melhor forma de uma empresa maximizar seus resultados é contar com profissionais maduros, equilibrados e felizes. Esta abordagem começa com a constatação de que tempo é vida.

“Amar a Vida é amar o tempo. Tempo é aquilo do que a vida é feita.”
Benjamin Franklin

Portanto: tempo fragmentado, vida fragmentada; tempo atribulado, vida atribulada. Por outro lado: tempo flexível, vida livre; tempo controlado, vida organizada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Introdução - O que é PowerSelf?

PowerSelf é um conceito - do inglês power (força, poder) e self (o eu, o si mesmo). PowerSelf significa portanto “fortalecimento do eu” ou o "aperfeiçoamento de si mesmo". O empowerment ou aumento de potência pessoal, no sentido de desenvolver as capacidades necessárias para fazer o que se quer ou se julga certo. Porém, o cultivo do self não significa egoísmo. Self é a unidade e unicidade do indivíduo singular, separado e, paralelamente, integrado ao mundo e aos outros eus que constituem a sociedade, com uma capacidade única e paradoxal de adaptação à realidade e de transformação desta mesma realidade. Self é o todo integral da pessoa, aquela autopercepção de unidade na multiplicidade de necessidades, papéis sociais e valores conflitantes que constituem a sua identidade.

Creio que através do fortalecimento do Self a pessoa evolui e supera suas limitações e, por outro lado, é capaz de aceitar-se como imperfeita. Somente um self fortalecido consegue assumir um maior controle de sua vida e de seu tempo, sem, entretanto, querer controlar tudo. Mas este fortalecimento não é algo que se possa adquirir, não é algo que possa ser dado por alguém, não é uma dádiva. É um processo, um caminho a ser trilhado pela própria pessoa e que envolve dois movimentos. De um lado, a ampliação do conhecimento e da compreensão de si mesmo e da realidade. De outro, a ampliação da responsabilidade pelas próprias escolhas e pela condução da própria vida.

Creio que este caminho pode ser percorrido através do exercício sistemático e continuado de três movimentos da atenção a atenção ao presente (percepção), a atenção ao futuro (planejamento) e a atenção ao passado (reflexão), hábitos fundamentais para a correta administração do tempo e da vida.

A reflexão é a base do conhecimento de si mesmo e do mundo, aprimorando sempre uma visão da realidade mais livre de preconceitos, crenças limitantes e expectativas irreais.

O planejamento é a chave para cumprir compromissos. Quando os desejos e sonhos se tornam compromissos consigo mesmo (metas pessoais), cumpri-los é afirmar sua identidade única e a realizar-se como pessoa. Quando os compromissos com os outros são assumidos de forma consciente, tornam-se compromissos pessoais, cujo cumprimento é a base da confiança, do crédito pessoal e da auto-estima.

A atenção ao presente é a única maneira de viver com qualidade, pois é só no presente que se vive.

Esses três hábitos são movimentos da atenção dirigidos às três dimensões do tempo agostiniano (ver Apêndice I). O planejamento é a disciplina de voltar a atenção para o futuro, para o que se deseja e para o que se quer evitar. A reflexão é a disciplina de voltar a atenção para o passado, para o que se conhece, para quem se é (na medida em que a identidade é o resultado de escolhas e experiências anteriores), para o que se fez e para o que aconteceu e, daí, retirar novos aprendizados. A atenção ao presente é a disciplina de vivenciar a experiência imediata, ampliando a percepção.

Esses conceitos se materializam num método e num Sistema de Planejamento Pessoal (Power Planner). PowerSelf também é o nome da empresa criada para divulgar o conceito, o método e o sistema. A PowerSelf oferece cursos e palestras sobre o método e também fornece as agendas e organizers que o incorporam. A missão da PowerSelf é ajudar as pessoas a realizar seu potencial, através da melhor compreensão e utilização do seu tempo.

O importante é o método, o algoritmo, o software que se executa para se conseguir resultados. O sistema PowerSelf é um hardware – uma ferramenta – projetado para facilitar a execução do algoritmo. Mas, na verdade, o hardware onde roda o algoritmo da gestão do tempo e da vida é o cérebro. Voltaremos a isso no capítulo II.

O método pode ser resumido em alguns passos:

  1. Reflexão inicial para definir valores fundamentais e metas de longo prazo.
  2. No início de cada mês: planejamento e acompanhamento dos projetos de longo prazo.
  3. A cada fim de semana: avaliação da semana passada e planejamento da semana entrante, com foco no longo prazo e no equilíbrio pessoal.

    Diariamente:

    a. No início do dia. Revisão e indexação das anotações do dia anterior, planejando as ações demandadas. Fazer um Plano Diário, distinguindo ações de compromissos com hora marcada e priorizando as ações em ABC. Confirmação ou renegociação dos compromissos com hora previamente agendados.

    b. Ao longo do dia. Marcação de compromissos futuros negociando tempo livre adequado. No tempo livre, alternar entre a rotina, as prioridades e as urgências inesperadas. Anotação sistemática dos contatos, eventos e idéias.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Prefácio à Primeira Edição - Ricardo Felizzola

“Minha filosofia, na sua essência, é o conceito de Homem como um ser heróico, tendo a felicidade como o propósito moral de sua vida, a conquista produtiva como sua mais nobre atividade, e a razão como seu único referencial.”
Ayn Rand


Este livro é uma conquista produtiva do autor, que busca disseminar uma coisa simples: como cada um de nós pode ser mais feliz administrando melhor o seu tempo, a sua vida. A contribuição aqui registrada é muito maior do que simplesmente ensinar os leitores a utilizar ferramentas que vão facilitar a execução de tarefas, que vão evitar esquecimentos, que vão permitir a comunicação segura ou o encontro ideal com um amigo, amiga ou quem sabe o seu futuro chefe. Trata-se de apontar um caminho para, através de um método, ser mais feliz, ser mais produtivo, ser racional no uso do seu maior valor: o tempo.

A capacitação para escrever esta obra é fundamentada na experiência de vida do autor como professor universitário, empresário e amante da filosofia. Trata-se de um amigo que há muito vive e experimenta o tema, comentando, lendo e se preparando para a partir de um momento decisivo criar algo de significativa grandeza como este livro. Cabe a nós aproveitar o texto, pois mais do que inspiração se trata do resultado de um trabalho intenso de pesquisa, experiência e vivência emocional profunda com todos os aspectos que permeiam o ato de existir momento a momento. Cabe a nós atentar para os processos descritos que podem realmente MUDAR a nossa vida e seguramente para MELHOR!

Confesso que pratico, de forma rebelde até, muitos dos conceitos e métodos que aqui vão ser detalhados e confesso também que isto me faz às vezes pensar que faço coisas demais. No entanto no fim de cada dia, de cada semana, de cada mês, ao refletir sobre o que se passa em minha vida, um sentimento de satisfação me percorre e a primeira impressão é substituída por um prazer intenso. Um sentimento de ter realizado o mais importante e da forma mais produtiva. Assim é com meu trabalho, minha família, com meus amigos, com os círculos que freqüento e em onde disponho dos meus momentos presentes. Aprendi muito com os conceitos do meu amigo Jaime Wagner, autor deste livro. Muito mais do que ele pensa ou acredita e este pequeno segredo eu torno público aqui de forma indelével e para sempre selando o assunto e aproveitando de forma matreira a oportunidade.

Aprender com pessoas que tem paixão pelo que fazem é aprender com heróis, é convencer-se. Estou convencido que os conceitos que são detalhados no livro servem na vida profissional e pessoal. Educam e produzem mais atividade, mais energia, mais ações importantes para cada um de nós, indivíduos, mais atenções para os que amamos, para os que consideramos. Meu convencimento vem da prática, da vivência e de resultados que obtive usando muitos destes conceitos. A paixão do autor pelo assunto é fácil de testemunhar, sua capacidade intelectual lhe permitiu elaborar um livro prático e ao mesmo tempo desafiador em termos de reflexão pessoal, de estímulo à mudança de comportamento, de levar a sério a vida que recebemos de nossos pais. Aproveitar esta paixão e aprender com este livro é uma oportunidade inequívoca de ser mais feliz.

Registrar este depoimento tem um propósito: despertar em você, leitor, um interesse que não se esgote nas primeiras páginas ou no folhar deste volume ou ainda após uma primeira leitura. Aconselho que o que for exposto adiante deva ser lido e relido, de forma a ser completamente absorvido e se transformar em disciplina, em costume, em hábito. A partir disto eu asseguro estará se iniciando na vida de cada um, um novo processo, um novo momento. O hábito de viver o momento presente, com a atividade mais importante sendo exercida, eleita que foi de uma reflexão intensa e metódica é completamente poderoso. A capacidade de entender este processo é o diferencial que o livro traz nos textos de um autor entusiasmado que não poupa conhecimento no assunto.

Por fim cabe ainda ressaltar o contexto em que vivemos, onde obras como estas chegam de fora trazendo cultura que não é a nossa. Aqui também há um diferencial: este livro considera o momento brasileiro. Momento este que necessita de ferramentas de produtividade e de felicidade para a construção de um país que prospere mais rápido e que pertença a pessoas mais felizes. A colaboração intrínseca para a formação cultural e profissional que o Jaime nos traz preenche a lacuna que uma educação formal as vezes esquece e que nos deixa sem método para enfrentar os desafios dos tempos modernos.

Trata-se de leitura de alto valor. Aproveitem bem o seu tempo desfrutando-a no detalhe.

Introdução - A Doença do Tempo

Não sou um “mestre do tempo”, mas sim um típico “doente do tempo”. A doença do tempo tem três sintomas: a “falta de tempo”, o medo de “perder tempo” e, o pior de todos, “o excesso de tempo”.

A doença do tempo é uma doença moderna. A produtividade do trabalho aumentou, mas paradoxalmente, as pessoas têm cada vez menos tempo para si mesmas, para se acalentarem e ordenar os pensamentos e sentimentos. Não se trata de figura de retórica. Angústia, ansiedade, fadiga, depressão e estresse excessivo são sintomas orgânicos associados à “doença do tempo”.

Falta tempo e os dias são curtos porque não se consegue dar conta de tantas demandas. Entretanto, convém notar que a força destas demandas reside no fato de serem aceitas. Sempre ocupados, e com medo de “perder tempo”, todos se queixam da falta de tempo, mas não conseguem suportar o tempo livre, ocupando-o com qualquer atividade, ansiosamente. Na sociedade ocidental moderna, produtiva e pragmática, quem não está fazendo alguma coisa, quem está “parado”, só pensando, é um desocupado, um inútil, sem valor. O ócio, que na Grécia antiga era a virtude dos que se dedicavam à contemplação, na ética cristã do trabalho tornou-se o pecado dos indolentes.

Ocupamo-nos para não enfrentar nossa finitude – por medo da morte. Para evitar a consciência de que estamos morrendo um pouco a cada minuto vivido. De que o tempo que passa é um tempo que morreu. Não perder tempo para agarrar-se à vida. Agarrar-se ao presente sem olhar para o longo prazo porque “no longo prazo todos estaremos mortos”, como disse Keynes. Mas é ao aceitar a morte, que se aprende a viver com serenidade. Aprender a viver é aprender a morrer.

Vive-se na urgência, sem tempo para questionamentos mais profundos sobre o sentido da vida, sobre o que se quer no longo prazo. Mas é justamente quando as pessoas se fazem estas questões que o uso do tempo deixa de ser urgente para se tornar vital. Sem tempo livre para pensar e formar juízos, a vida se torna uma seqüência de reações condicionadas e instantâneas às demandas, apelos e ilusões. Perde-se o rumo, e a vida perde o sentido e, jogados de um lado para outro ao sabor das circunstâncias, fica-se “doente do tempo”.

O importante é fazer o que se gosta. Todo mundo gosta de ter prazer: amar, divertir-se. Também é bom, pelo menos por um tempo, simplesmente não fazer nada, deixar o tempo passar. Alguns, ainda, gostam de aprender, enfrentar dificuldades, realizar metas. Por isso, há sempre a alternativa de gostar do que se faz. Aceitar os encargos como missão, assumi-los plenamente. O certo é que, quando se está fazendo algo de que se gosta, estar ocupado é uma bênção. O envolvimento é pleno e total. O problema é o conflito que, muitas vezes, se estabelece entre a pessoa e seus papéis, seus valores e sua missão.

Em um mundo cada vez mais populoso e com recursos limitados, a produtividade é um imperativo e não mais uma opção. Urge produzir. Queira-se ou não, o valor fundamental da vida moderna é a utilidade, em detrimento da verdade, da beleza, da justiça ou da santidade, que já predominaram em outras épocas da civilização. Não se pode mais parar e o trabalho econômico é a principal finalidade da vida, fonte básica de valor e da auto-estima que fundamenta a identidade de cada um. A sociedade de consumo nos martela com uma mensagem fundamentalmente hedonista: o objetivo da vida é poder consumir, felicidade é prazer – e o prazer se compra. Mas o preço do consumo é a produção. É preciso engajar-se no processo produtivo para ganhar o dinheiro para poder consumir e viver. O trabalho é o preço do consumo. O dever de produzir é o preço do prazer de consumir. No mercado de consumo, o homem vira mercadoria e a pessoa vale o que ganha. Mas também há uma vertente da ética moralista a estimular o engajamento produtivo. Na esteira do estoicismo, a mensagem utilitarista defende que o dever de produzir se impõe por si só como dever moral e ético: a pessoa vale o que produz, não o que ganha. Está aí o líder servidor. Daí a noção de tempo como mais um recurso econômico. E, como todo recurso econômico tem seu valor de troca medido em dinheiro, confunde-se tempo com dinheiro, a grande psicopatia coletiva da nossa sociedade.

Entretanto, o pior sintoma da doença do tempo, o “excesso de tempo”, não é excesso de dinheiro, embora seja sim conseqüência das desigualdades econômicas. Em termos de valor econômico, os indivíduos e as sociedades não são iguais em suas possibilidades e se distinguem em pelo menos dois aspectos: dons inatos e possibilidade de acesso a recursos. Tenho um enunciado para a Lei da Gravidade da Riqueza: “O dinheiro atrai o dinheiro na razão direta da carência e na razão inversa do quadrado do medo. Geralmente, os que têm mais riqueza, têm mais produtividade na geração de riqueza. Isto é um fato, por injusto que seja. Com a produtividade crescente, o padrão de vida médio cresce exponencialmente, porém, o padrão de vida maior cresce mais do que o padrão de vida menor. Este fenômeno é efeito da divisão do trabalho e, embora seja mais agudo nas economias de mercado, também acontece nas economias planificadas ou mistas, conseqüência das diferenças de produtividade entre indivíduos e grupos. Assim, embora a qualidade de vida média cresça com o aumento da produtividade global, a desigualdade também aumenta de forma exponencial. Produz-se mais, mas os resultados da produtividade são distribuídos de forma cada vez mais desigual. Assisti uma palestra de Paul Kennedy na qual ele cita um relato hipotético de uma nave alienígena na órbita da Terra reportando inúmeras formas de vida e indicando um fato estranho a respeito de uma delas: a enorme diferença de padrão de vida entre os indivíduos daquela espécie em diferentes partes do globo, enquanto as demais espécies não apresentavam tanta desigualdade. Este aumento progressivo da desigualdade está na raiz da outra característica da sociedade moderna – a competitividade. A chave para o crescimento e o desenvolvimento está no aumento de produtividade ligado ao conhecimento e ao domínio tecnológico. A tendência de distanciamento entre os mais e os menos desenvolvidos ocorre tanto no plano das pessoas, quanto no dos grupos sociais e das nações. Alguns têm mais o que fazer, ou sabem mais o que fazer do que outros. Por exemplo, hoje em dia, quem não sabe operar um computador tem mais dificuldade, não só de encontrar emprego, mas também de ter acesso ao enorme cabedal de informação e de relacionamento disponível na Internet. Atualmente, a produtividade dos que produzem é tanta que bastaria à subsistência de todos. Entretanto, na economia de mercado, a produção se orienta para o consumo de quem produz. Pessoas que não tenham uma educação mais aprimorada, que fazem serviços de rotina, são cada vez menos necessárias, pois realizam tarefas automáticas e repetitivas, substituíveis por máquinas. O fenômeno da exclusão se acelera. Uma parcela cada vez maior da população simplesmente não precisa se educar nem produzir, e subsiste à margem do sistema, vivendo das sobras, da caridade ou do assalto violento ao processo econômico central. De uma forma que é ao mesmo tempo lógica, natural e paradoxal, os que vivem à margem consomem sem produzir, têm excesso de tempo, e assumem o papel de adoradores impotentes e revoltados da vertigem de consumo que comanda este processo.

É interessante como o tempo também se distribui de forma desigual. No centro do processo produtivo falta tempo. Na margem, ele sobra. A analogia geométrica que aqui se faz baseia-se na figura de Alvin Toffler [1] das ondas da economia. No centro do processo situam-se as economias que já chegaram à terceira onda (economia pós-industrial, economia de serviços baseada nas tecnologias da informação); as economias de segunda onda (industriais) estariam numa camada mais externa; as da primeira onda (agrícolas), numa outra mais externa ainda, e o entorno do processo econômico seria ocupado pelos excluídos (economias primitivas). Nesse sentido, a África é mais “marginal” – seu processo econômico está mais distante da terceira onda – do que a América do Sul, e o interior é mais “marginal” do que a cidade. Mas, a analogia geométrica proposta não obedece aos contornos da geografia. Num mesmo país, e até numa mesma cidade, as quatro camadas (ou ondas) coexistem.

O custo subjetivo do aumento da produtividade e da competitividade, o aumento da ansiedade – “o medo de perder tempo” – a pressão da “falta de tempo”, recai exatamente sobre os que produzem. E esta pressão é tão maior quanto mais próximo do centro do processo; nos EUA, mais do que no Brasil; em São Paulo, mais do que em Porto Alegre; em Porto Alegre, mais do que em Alegrete. Porque a cada onda, o processo produtivo se acelera e a competição aumenta. Os profissionais mais qualificados tendem a migrar para os centros do processo, aguçando a competição. Para o centro do processo converge também a acumulação de capital e, complementando a lógica do sistema, o aumento do consumo funciona como uma compensação psicológica para a pressão competitiva.

Entretanto, há uma dor psicológica dupla que acomete os que estão à margem ou nas camadas mais exteriores do processo, dor essa que resulta da comparação com o centro. Ao gerar menos renda na cada camada mais externa as pessoas sentem-se, comparativamente, “piores”. Ao consumir menos, alguns chegam a experimentar privação e carência do supérfluo, mas todos sentem inveja de quem tem mais e de quem faz mais. Marx[2] já notava este fenômeno. Nessa situação, o indivíduo se depara com outro sintoma (o mais doloroso) da doença do tempo: o “excesso de tempo” – o não ter o que fazer no seu nível de qualificação e não saber fazer outra coisa. É aí que a vida perde todo sentido e que a pessoa passa a duvidar do seu próprio valor. Sente-se à beira do abismo, em crise. O tempo e o conhecimento são irreversíveis, e na beira do abismo, só se tem três alternativas: paralisar-se, cair, ou aprender a voar. Aprender a voar é o próprio aprendizado: ir além das suas possibilidades atuais.

Incluo-me no rol dos doentes do tempo, pois padeço ou padeci de todos os três sintomas desta doença. Julgo-me, porém, um doente consciente, que não nega a doença e busca o remédio. Infelizmente, não existe o remédio milagroso. Não basta ler um livro como este, fazer um curso, consultar um terapeuta ou comprar um sistema de planejamento pessoal para conseguir a cura. Tudo isto ajuda, mas a doença precisa ser combatida todos os dias, de forma homeopática, pelo cultivo de bons hábitos de tempo e de vida, revigorando-se a cada dia, porque as recaídas são praticamente inevitáveis.

[1] Toffler, Alvin. A Terceira Onda. 8 ed. Rio de Janeiro: Record, 1980.

[2] Marx, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2002. p.74. “O rápido crescimento do capital produtivo demanda o crescimento rápido da riqueza, da ostentação e das satisfações sociais. Por isto, mesmo que as satisfações do trabalhador tenham aumentado, a gratificação social que proporcionam diminuiu em comparação [grifo meu] com o aumento das satisfações do capitalista, inacessíveis ao trabalhador. As nossas carências e satisfações têm origem na sociedade; podemos medi-las portanto em relação à sociedade; não as avaliamos em relação aos objetos que servem para a sua satisfação. Possuem uma característica relativa.”

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Introdução - Por que este livro?

“O valor da vida não está no encadeamento dos dias, mas no uso que fazemos deles.”
Montaigne

Este é um livro sobre planejamento pessoal, administração do tempo, organização pessoal, inteligência emocional, liderança pessoal, proatividade. Conceitos interligados que buscam uma forma de responder à questão: o que fazer para viver melhor? Esta é a questão da filosofia da ação, a ética. Sua finalidade? A felicidade. Dentro do possível. E como expandir as possibilidades? Este livro é também um manual de uma resposta neste sentido.

Por que este livro?

Meu interesse original pela disciplina do planejamento e da organização pessoal era o de aprender a ser mais eficiente, fazer mais em menos tempo. Após um crescimento profissional acelerado, sentia-me pouco competente para fazer frente a tantas demandas. Aos 20 anos perdi meu pai. Trabalhava, estudava engenharia eletrônica e iniciei o mestrado em Ciência da Computação junto com o último ano da Faculdade, trabalhando ainda no CPD da UFRGS. Antes de concluir o mestrado, junto com três colegas, comecei uma empresa industrial de fundo de quintal, sem nenhuma experiência, baseado apenas na vontade, na coragem e na própria ignorância. Tive uma boa formação, toda ela no ensino público. A Digitel cresceu para tornar-se a maior empresa de comunicação de dados da América Latina. Dentro da Digitel nasceu a Altus, que é hoje uma das maiores empresas de automação industrial do Brasil, exportando tecnologia para a Alemanha e América Latina. Acho que retribuí o que o país investiu em mim.

Uma história de sucesso da qual me orgulho. Mas todo sucesso tem seu preço em problemas: ansiedade, angústia, tensão. Sentia na pele o que foi identificado por Kerry Gleeson[1]: “embora tenhamos sido formalmente educados para trabalhar nas nossas profissões, poucos, principalmente os trabalhadores de alto nível, aprenderam a trabalhar de forma eficiente e eficaz. Grande parte dos profissionais não tem uma idéia clara de como se organizar e processar o seu trabalho da melhor maneira”. Felizmente minha natureza era eclética e tive a oportunidade de fazer um curso de Gerência de Projetos. Comecei a planejar a longo prazo, mas faltavam muitas outras habilidades gerenciais, e com o acúmulo de demandas, passei a improvisar e reagir além dos limites do bom senso.

Em 1985, fiz um curso de administração do tempo (baseado no trabalho de Douglass[2]) e passei a praticar e estudar a organização do tempo, esporadicamente, buscando duas integrações. Uma era unir o planejamento de longo prazo da Gerência de Projetos às técnicas de organização do dia-a-dia. Além disso, buscava uma ferramenta que integrasse papel e informática. Meu objetivo era ser mais eficiente: fazer mais, reagir mais rápido, utilizar melhor o tempo como recurso. Depois de vários anos de estudo e prática, reconheci que, em verdade, e desde sempre, mais do que reagir rápido, o que importa é agir certo – a eficácia, mais do que a eficiência. E que, mais do que um recurso, tempo é vida. Administrar o tempo de forma eficaz é viver bem e ser feliz.
Eficácia é mais do que eficiência e mais do que qualidade. Eficácia não significa fazer mais nem fazer certo, mas fazer o certo – as coisas que conduzem à realização e que fortalecem a integridade. Realização é um processo e não um estado de plenitude permanente. Não é uma meta, ou, se o for, é essencialmente inalcançável. Realização é a forma pela qual percorremos o caminho, o aprimoramento ao longo do percurso, e isso pode ser feito com método, seguindo uma “técnica” milenar: viver de acordo com os próprios valores e alinhá-los permanentemente com a realidade mutante. Esta técnica da eficácia é a própria ética, a filosofia da ação e das virtudes morais que, quando praticada, conduz a uma felicidade mais duradoura e mais serena do que aquela outra felicidade de desfutar o prazer.

Dizer que o objetivo da vida é ser feliz é um truísmo. O problema que logo se coloca é: o que é felicidade? Duas respostas milenares e aparentemente opostas. De um lado, deve-se reconhecer que felicidade é algo que se sente, portanto é uma sensação, e uma sensação de prazer. Ser feliz é sentir prazer – é a tese hedonista do epicurismo e o princípio do prazer de Freud: a busca do prazer e a fuga da dor são “o princípio de toda escolha e de toda recusa”. De outro lado, a crítica estóica de que a verdadeira felicidade deveria ser duradoura, e não uma sensação imediata e passageira. Se qualquer organismo aceita sofrer para sobreviver, a preservação da essência do ser está acima da busca do prazer. Se a essência do homem é a razão, viver segundo a razão (a virtude) vale mais do que a fruição do gozo. A felicidade moral é uma sensação sim, mas é uma sensação de segunda mão, derivada de um conhecimento. Sentimo-nos moralmente felizes quando sabemos ter cumprido um dever, ter alcançado uma meta, mesmo que isso envolva dor. Esta é a felicidade da realização, tão maior quanto maior o esforço. A felicidade de cumprir o dever é da ordem da eternidade e do conhecimento (que ficam). A felicidade de sentir o prazer está na ordem do tempo e do corpo (que passam). Uma tese não nega a outra, mas freqüentemente entram em conflito. “Rigor de Epícteto contra a suavidade de Epicuro. Vontade contra volúpia. Alegria do esforço contra o prazer do repouso. São os dois pólos do viver, entre os quais não se trata tanto de escolher, mas de oscilar ou de encontrar um equilíbrio”.[3] Estas duas sabedorias mais se completam do que se opõem na experiência da vida.

Sempre oscilando, hoje sou mais moralista do que hedonista, pois considero que o maior valor está na busca permanente de superar os próprios limites, em aprender e empreender. Mas busco um crescimento integral e harmônico, sem reprimir ou negar a realidade das emoções, do prazer e da dor. E procuro influenciar os outros a percorrer também esse caminho. Realizo-me ao praticar, reforçar e aprimorar este aprendizado, compartilhando-o com outras pessoas. Este é o motivo para escrever este livro, para desenvolver o Sistema PowerSelf e para criar e manter a PowerSelf como empreendimento. O grande prêmio desta jornada é o desenvolvimento de uma consciência mais madura e equilibrada. Mas, contabilizo ainda duas outras gratificações: primeiro, a confirmação de tantas pessoas de que o sistema PowerSelf as ajudou a agregar e gerar valor em suas vidas; depois, o feedback das pessoas mais próximas de que esta prática me tornou uma pessoa melhor para o convívio. Assim, o objeto deste livro é também o de ajudar o leitor a alcançar novos níveis de realização na sua vida pessoal e profissional.

Sim, este é um livro de auto-ajuda. Por que não? Embora o termo auto-ajuda esteja desgastado, não é sábio nutrir preconceitos em relação a termos. Toda terapia implica auto-ajuda. Terapia é ajudar alguém que padece. E não se pode ajudar a uma pessoa que não quer ser ajudada. Todos padecem da “doença do tempo”, embora nem todos queiram ajuda.

[1] GLEESON, Kerry. PEP – O Programa de Eficiência Pessoal. São Paulo: Makron Books, 1996.
[2] DOUGLASS,
[3] Comte-Sponville, André. “A vida humana”. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007. p76.

Saldando um Débito - Prefácio à 2ª Edição

Eu não sabia da dificuldade de vender cinco mil livros em três anos, mesmo sabendo ser um autor desconhecido e sem networking no meio livresco, e que a Literalis era uma editora nascente. Por ignorância ou soberba, foi assim que planejei a primeira edição. A ousadia foi compensada, e o projeto, embora mal acompanhado, chegou ao objetivo. Em 2007, a primeira edição, lançada em novembro de 2003, estava praticamente esgotada. Um orgulho e um novo desafio: revisá-la.

A primeira versão foi escrita ao longo de quatro anos e meio. Mesmo sem estar satisfeito com o resultado (creio que nunca estarei), resolvi publicá-la. Havia muita redundância, pois o livro foi composto para ser lido como um manual, a partir de qualquer capítulo. Tive e tenho dúvidas quanto à melhor seqüência didática.

A revisão foi mais fácil do que a escrita original, mas, ainda assim, muito mais lenta do que poderia ser se eu tivesse, ao natural, a disciplina que, penosamente, busco desenvolver. Houve muita poda de excesso, questão de estilo; algumas reformulações, questão de conceitos; e outros tantos implantes, questão de aprendizado e reflexão. No fim das contas, modifiquei bastante, e o que era para ser a revisão 1.1 terminou como uma nova versão 2.0. Aliás, ainda não terminou e, por isso resolvi começar a publicar por partes aqui, o que acontecerá a cada semana.

Gostaria de fazer uma modificação de nomenclatura, mas não a fiz. Ao invés de “compromissos com hora”, desejava passar a usar a designação “horários”, mas não quis perder a força da palavra compromisso. No capítulo I, adotei o termo pós-moderno no lugar de moderno até porque neste meio tempo desde a primeira edição aprendi o significado do primeiro termo e sua melhor adequação descritiva.

Na introdução do Capítulo 4, incluí um texto de inspiração epicurista. No mesmo capítulo incluí a lista dos valores de Benjamin Franklin, o criador do método de “contabilidade moral”, cuja prática eu recomendo. No fim do mesmo capítulo, incluí um pequeno desenvolvimento dos conceitos de Cloninger sobre temperamento e caráter, cujo trabalho conheci através de meu amigo Paulo Abreu, a quem muito agradeço, pois os conceitos postulados, pesquisados e validados por Cloninger permitiram estruturar e aprofundar uma seara que já se perseguia na primeira edição. O capítulo 5 da versão original foi aberto em dois: um para o Plano Político e outro para o Plano Tático. Neste novo capítulo 6, está a grande mudança que justifica chamar esta nova edição de uma nova versão. Em relação a ações, incluí a análise do conceito de prazo e explicitei melhor a distinção entre as formas de atacar ações simples e complexas. Também neste capítulo, mudei a ordem de apresentação dos vários itens para melhor destacar a ligação entre rotina e a estratégia de marcação de horários, apresentada de uma forma bem mais didática. Foi incluído também um item sobre reuniões.

Ainda estou reescrevendo o novo capítulo 7 referente ao planejamento de longo prazo. E, justamente por ter empacado neste ponto, resolvi começar a publicar o livro aqui, por partes, a cada semana. Estarei apostando uma corrida comigo mesmo: terminar o capítulo antes de chegar o momento de publicá-lo :-)

Entretanto, a principal reformulação conceitual de fundo cabe aqui mesmo. No texto original destaquei que a disciplina da boa administração do tempo era muito antiga e era a ética, a filosofia prática. Hoje, vejo de forma diferente ou mais abrangente, ajudado por uma reflexão de Luc Ferry. A questão do tempo para o homem, está intimamente associada à consciência da própria finitude, de sua relação com a morte. A questão da perda de tempo “é” a própria questão da vida (ou da sua perda – a morte): a consciência da irreversibilidade do tempo. A questão de “o que fazer agora”, ou “o que fazer da vida” é a questão filosófica por excelência. Portanto, para além da ética, a questão da administração do tempo é a própria filosofia. “O que supõe que se percorrem três etapas: a da teoria (conhecimento do mundo e dos instrumentos que temos para conhecer), a da ética (como viver com os outros) ou filosofia prática, e a da salvação ou da sabedoria, o saber viver, feliz e livre, na medida do possível” [1].

De resto, apesar das dúvidas, decidi por manter a capitulação original com a inclusão já mencionada e, sem nenhuma dúvida, o prefácio do meu amigo Ricardo Felizzola.

Dedico esta segunda edição à memória do meu amigo Gilnei Marques, criador e editor do Baguete Diário, uma pessoa que eu tive a dádiva de conhecer e com quem tive o privilégio de privar.

[1] FERRY, Luc. Aprender a Viver; trad. Vera Lúcia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. pp. 32-34.