Eu não sabia da dificuldade de vender cinco mil livros em três anos, mesmo sabendo ser um autor desconhecido e sem networking no meio livresco, e que a Literalis era uma editora nascente. Por ignorância ou soberba, foi assim que planejei a primeira edição. A ousadia foi compensada, e o projeto, embora mal acompanhado, chegou ao objetivo. Em 2007, a primeira edição, lançada em novembro de 2003, estava praticamente esgotada. Um orgulho e um novo desafio: revisá-la.
A primeira versão foi escrita ao longo de quatro anos e meio. Mesmo sem estar satisfeito com o resultado (creio que nunca estarei), resolvi publicá-la. Havia muita redundância, pois o livro foi composto para ser lido como um manual, a partir de qualquer capítulo. Tive e tenho dúvidas quanto à melhor seqüência didática.
A revisão foi mais fácil do que a escrita original, mas, ainda assim, muito mais lenta do que poderia ser se eu tivesse, ao natural, a disciplina que, penosamente, busco desenvolver. Houve muita poda de excesso, questão de estilo; algumas reformulações, questão de conceitos; e outros tantos implantes, questão de aprendizado e reflexão. No fim das contas, modifiquei bastante, e o que era para ser a revisão 1.1 terminou como uma nova versão 2.0. Aliás, ainda não terminou e, por isso resolvi começar a publicar por partes aqui, o que acontecerá a cada semana.
Gostaria de fazer uma modificação de nomenclatura, mas não a fiz. Ao invés de “compromissos com hora”, desejava passar a usar a designação “horários”, mas não quis perder a força da palavra compromisso. No capítulo I, adotei o termo pós-moderno no lugar de moderno até porque neste meio tempo desde a primeira edição aprendi o significado do primeiro termo e sua melhor adequação descritiva.
Na introdução do Capítulo 4, incluí um texto de inspiração epicurista. No mesmo capítulo incluí a lista dos valores de Benjamin Franklin, o criador do método de “contabilidade moral”, cuja prática eu recomendo. No fim do mesmo capítulo, incluí um pequeno desenvolvimento dos conceitos de Cloninger sobre temperamento e caráter, cujo trabalho conheci através de meu amigo Paulo Abreu, a quem muito agradeço, pois os conceitos postulados, pesquisados e validados por Cloninger permitiram estruturar e aprofundar uma seara que já se perseguia na primeira edição. O capítulo 5 da versão original foi aberto em dois: um para o Plano Político e outro para o Plano Tático. Neste novo capítulo 6, está a grande mudança que justifica chamar esta nova edição de uma nova versão. Em relação a ações, incluí a análise do conceito de prazo e explicitei melhor a distinção entre as formas de atacar ações simples e complexas. Também neste capítulo, mudei a ordem de apresentação dos vários itens para melhor destacar a ligação entre rotina e a estratégia de marcação de horários, apresentada de uma forma bem mais didática. Foi incluído também um item sobre reuniões.
Ainda estou reescrevendo o novo capítulo 7 referente ao planejamento de longo prazo. E, justamente por ter empacado neste ponto, resolvi começar a publicar o livro aqui, por partes, a cada semana. Estarei apostando uma corrida comigo mesmo: terminar o capítulo antes de chegar o momento de publicá-lo :-)
Entretanto, a principal reformulação conceitual de fundo cabe aqui mesmo. No texto original destaquei que a disciplina da boa administração do tempo era muito antiga e era a ética, a filosofia prática. Hoje, vejo de forma diferente ou mais abrangente, ajudado por uma reflexão de Luc Ferry. A questão do tempo para o homem, está intimamente associada à consciência da própria finitude, de sua relação com a morte. A questão da perda de tempo “é” a própria questão da vida (ou da sua perda – a morte): a consciência da irreversibilidade do tempo. A questão de “o que fazer agora”, ou “o que fazer da vida” é a questão filosófica por excelência. Portanto, para além da ética, a questão da administração do tempo é a própria filosofia. “O que supõe que se percorrem três etapas: a da teoria (conhecimento do mundo e dos instrumentos que temos para conhecer), a da ética (como viver com os outros) ou filosofia prática, e a da salvação ou da sabedoria, o saber viver, feliz e livre, na medida do possível” [1].
De resto, apesar das dúvidas, decidi por manter a capitulação original com a inclusão já mencionada e, sem nenhuma dúvida, o prefácio do meu amigo Ricardo Felizzola.
Dedico esta segunda edição à memória do meu amigo Gilnei Marques, criador e editor do Baguete Diário, uma pessoa que eu tive a dádiva de conhecer e com quem tive o privilégio de privar.
[1] FERRY, Luc. Aprender a Viver; trad. Vera Lúcia dos Reis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. pp. 32-34.
Um comentário:
Jaime, parabéns pela atitude e coragem de publicar o livro à medida em que ele é escrito, com seus erros e acertos. Sem dúvida, és, se não "a" pessoa certa, uma das mais indicadas para falar sobre administração do tempo, uma vez que, com tantas atribuições, consegue administrar todas com maestria e sucesso. É muito bom, e raro, ver alguém que pode dizer "não faça apenas o que digo, mas também o que faço". Parabéns e sucesso.
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