O desenvolvimento dos Recursos Humanos nas organizações
enfrenta alguns paradoxos. O primeiro paradoxo é que, em geral, as empresas declaram
que as pessoas são o seu recurso mais precioso. Entretanto, as áreas de Recursos
Humanos raramente fazem parte dos escalões mais altos de direção. Talvez porque
sendo o lucro a finalidade da empresa, as pessoas são apenas instrumentos
funcionais (funcionários) dos processos de produção de riqueza, enquanto as áreas
de RH, dada sua vertente psicológica, podem querer priorizar o desenvolvimento
das pessoas enquanto tais e não apenas como funcionários. Mas pessoas mais
maduras e mais felizes podem sim produzir mais. Então, as empresas investem no
desenvolvimento das pessoas sim.
Um segundo paradoxo diz respeito à avaliação do resultado do
investimento no desenvolvimento das pessoas. Desenvolvimento é sinônimo de
aprendizado, e o aprendizado de habilidades comportamentais vai além do
treinamento em habilidades técnicas. Normalmente, as empresas investem no
treinamento e no desenvolvimento pessoal de seus colaboradores, mas só avaliam o
custo do investimento e a satisfação dos participantes. Assim, muitas vezes,
pela falta de um instrumento que possa medir o seu retorno, o treinamento é
encarado como um benefício a ser agregado ao custo de pessoal e não como um
investimento que traga retorno.
O instrumento tradicional de avaliação de reação em um treinamento
mede apenas a satisfação imediata dos participantes, fortemente influenciada
pelas emoções suscitadas pelo processo. Assim, um evento do tipo “show” tende a
ter uma melhor avaliação do que um processo mais longo de aprendizado
autogerenciado de ensino à distância (EAD), mesmo que o seu resultado final em
termos de mudança comportamental seja comparativamente menor.
A PowerSelf desenvolveu um método de avaliação dos
resultados efetivos do aprendizado através de indicadores. Em dois anos de
aplicação e aprimoramento constante, os indicadores orientaram a consolidação de
nossa Trilha de Aprendizado, constituída por uma série de serviços antes e
depois do curso presencial. São três indicadores: Aproveitamento, Ganho e
Responsividade. O Aproveitamento de uma turma é o percentual de participantes
com mudanças efetivas reportadas por eles e/ou seus apoiadores. O Ganho é uma avaliação
quantitativa da melhora percebida com a mudança comportamental. Este ganho
percebido é uma avaliação subjetiva sim, como de resto toda avaliação o é, mas
sem dúvida, é uma medida da melhoria da produtividade pessoal. A Responsividade
mede o engajamento do participante no processo de aprendizado, funcionando como
uma avaliação de desempenho progressiva.
Aproveitamento é o indicador mais importante da efetividade
de um treinamento. Buscando melhorá-lo aprimoramos o processo da Trilha. De
fato, de uma média de 35% no início de 2014, chegamos a 80% em meados de 2016.
Isto é, 80% dos participantes da Trilha percebem ganhos significativos, ao
redor de 50%, no seu desempenho. A Responsividade, implantada somente no fim de
2015, tem variado entre 60% e 70%. O indicador de Ganho permite que se tenha uma medida do
retorno do investimento, supondo que o Ganho se dá sobre a Produtividade de Pessoal,
dada pela relação entre margem bruta e massa salarial. No cálculo, consideramos
apenas os participantes com ganhos relatados. Caso a empresa não acompanhe o
indicador de produtividade de pessoal, supomos que a produtividade dos
participantes antes do processo de aprendizado fosse de 2,5 vezes o seu salário
– uma produtividade baixa, já que só o custo de um trabalhador no Brasil é de 2
vezes o seu salário. Quanto maior a produtividade anterior, mais rapidamente retornaria
o investimento, pois se está medindo o ganho em relação a ela.
O aumento de
produtividade das pessoas pode não se traduzir num retorno financeiro imediato para
a empresa, pois este depende de muitos outros fatores e também porque as pessoas
que participam do processo podem representar uma parcela pequena do total
de colaboradores, mas, de qualquer maneira, trabalhar consistentemente com
indicadores que traduzam o resultado residual efetivo do treinamento é uma
forma muito melhor de avaliar o investimento em pessoal do que a tradicional
avaliação de reação.
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