A escalada da violência e a inoperância das “notoriedades” é
de um absurdo que revolta quem conserva alguma dignidade do lado de cá e
deveria envergonhar quem a tivesse do lado de lá. Não uso a palavra autoridade
porque esta é sempre de natureza moral e precisa ser reconhecida. A maioria do
lado de lá busca apenas a notoriedade dos instrumentos de status e poder,
falta-lhes o essencial para merecer meu reconhecimento.
A polícia diz que não prende porque a Justiça solta. A
Justiça diz que solta porque os presídios estão lotados. O Executivo diz que os
presídios estão lotados porque a Justiça não julga e não libera os delinquentes
menores. E todos dizem que não fazem mais por falta de recursos. Pedem mais
policiais, juízes e... impostos. Assim se consuma o duplo assalto: dos bandidos
e do erário. Resta aderir e delinquir também. E nem Estado, nem sociedade, com
a exceção de alguns indivíduos fazem por melhorar, justificando-se pela
fraqueza e pela culpa tanto alheia quanto própria. Fraqueza gera fraqueza. Esta
“fraqueza maior” que a todos contamina e a todos redime é a justificativa
típica da criança – incapaz por natureza. O Luís Lamb matou: “Não somos um país
jovem, somos um povo infantil”. Mas isso não nos redime.
A “fraqueza maior” assumida como natural em nós se agrega ao
“caso fortuito” e à “força maior”: as redenções da responsabilidade
reconhecidas pelo Direito. Diante do acaso imprevisível e do determinismo
incontrolável a vontade se ajoelha e a soberba se humilha. Mas também a culpa
se esvai. Nada a fazer. Só resta aceitar o curso dos acontecimentos. Dar de
ombros é sensatez, pois nada mais nos compete. Porém, a ação humana adulta
requer a boa prática: prudência, pelo menos, senão previsão; técnica sempre
aprimorada; e atenção, quando não cuidado extremado. Qualquer falta aqui é
culpa: imprudência, imperícia e negligência. Culpa ou incapacidade? Veredicto:
culpa "e" incapacidade.
O Estado deveria cuidar da sociedade e fazê-la
amadurecer como um pai. Quando o pai é incapaz resta à criança amadurecer por
seus próprios meios ou, o que é mais provável, reproduzir a incapacidade na
próxima geração. De qualquer forma chorar pelo pai não adianta. Pedir mais pai
só cristaliza e reproduz a incapacidade.
Um comentário:
Este texto retrata exatamente a nossa sociedade, queria eu que fosse apenas uma fábula, onde os personagens se passam por seres humanos, nos trazendo ensinamentos morais, ou instrutivos. Mas infelizmente é a vida real e pelo que parece tão longe de mudar.
Abraços.
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