O tema da Gestão do Tempo é tratado por duas “escolas” de formas
assemelhadas, mas distintas. A primeira é a Escola da Administração[1]
iniciada nos anos 60 e que foca no tempo de trabalho ensinando técnicas e
ferramentas para lidar com os “ladrões de tempo”[2]
que afastam o profissional das tarefas típicas da rotina do seu cargo. A
segunda vertente é a Escola da Ética[3],
à qual me filio, que foca na vida como um todo ensinando boas práticas para uma
vida mais feliz e equilibrada. Essa escola tem raízes na filosofia e pode-se
dizer que nasceu com Sócrates. Além de mais antiga, a Escola da Ética é mais
abrangente e inclui os preceitos da Escola da Administração, na medida em que o
trabalho faz parte da vida.
A grande diferença entre as duas está na disciplina da
Reflexão, a mais básica das Três Disciplinas da abordagem que desenvolvi para a
prática da boa “gestão do tempo”. As aspas se justificam, pois não
administramos o tempo, mas sim nossas decisões sobre o que fazer.
Uma coisa é decidir o “que fazer” a cada instante. Aqui estamos
no âmbito da administração: o uso de técnicas para melhorar eficiência, qualidade e eficácia. As
técnicas da eficiência são instrumentais: aprimoram os meios, mas não questionam
os fins a que se submetem, pois no plano do “que fazer” supõe-se que os
objetivos são dados ou conhecidos.
Podemos viver sem questionamento, deixando a vida nos levar,
cumprindo a rotina como destino, ao sabor do acaso ou sob a pressão das circunstâncias.
Outra coisa é decidir “como viver”. Aí transcendemos a economia e entramos na
filosofia – no terreno das dúvidas antes das certezas. Sim, pois a realização pessoal
não é uma meta, ou, se o for, é essencialmente inalcançável. Realização é um
processo e não um estado – é a forma de percorrer o caminho da vida e a construção
de si mesmo ao longo do percurso. Isso pode ser feito com método, seguindo uma
“técnica” milenar: a própria filosofia da ação – a ética. Isso resume tudo:
administrar bem o tempo é viver bem e para isso há uma única fórmula: reagir
menos automaticamente para agir mais conscientemente. Aí toda a
dificuldade. O natural e fácil é a inação ou a reação condicionada, supondo que se sabe o que se
quer. A ação consciente é um aprendizado, uma disciplina – justamente porque
não é natural. Por isso é preciso aprender a administrar a si mesmo (e não o
tempo) – aprender a viver bem, desenvolvendo
hábitos e processos de decisão mais racionais.
[1]
Creio que é essa corrente que Covey chamou de Escola da Eficiência.
[2] Reuniões,
falta de planejamento, interrupções, procrastinação, má delegação, desorganização
da informação e do espaço, gestão de projetos.
[3]
Covey usa o termo Escola da Eficácia, mas entendo que o seu enfoque ainda é
instrumental, supondo que os fins são dados de maneira inquestionável.