Aprendi de Foucault[1] o
conceito grego de parresía: o dizer a verdade a qualquer custo e sem outra
finalidade. Não é demonstração à maneira da lógica e seus raciocínios válidos.
Não quer persuadir à maneira da retórica e suas figuras de linguagem, embora
Quintiliano a aponte como a figura de linguagem que consiste em não usar figura
alguma. Não quer necessariamente ensinar à maneira da pedagogia e também não é
uma técnica da arte da discussão ou erística.
Pergunto-me se a parresía é uma virtude como quer a interpretação tradicional
e corrente[2] que a define como uma forma de coragem – de enfretamento
do medo, no caso, de dizer a verdade. Será que esse apreço pela verdade acima
da própria vida é racional? A confissão, a delação e a denúncia verdadeiras sem
respeito pela vida alheia podem ser sempre consideradas virtudes? Ou estará
esse “amor” pela verdade mais para o lado de um vício ou de uma compulsão?
A questão subjacente
é se a verdade é um fim em si mesma ou um atributo do conhecimento com um valor
meramente instrumental para a melhor decisão. Isso equivale a colocar a
epistemologia a serviço da ética, o que, na minha humilde opinião é plenamente
justificável e verdadeiro. Pronto! Pratiquei a parresía!