A Ciência Cognitiva surgiu da convergência entre neurologia,
psicologia e informática e sua Teoria dos Dois Sistemas postula que o
funcionamento do cérebro se caracteriza por duas formas de cognição com
objetivos e mecanismos separados que, no mais das vezes cooperam, mas que podem
divergir[1]. Um dos sistemas é automático e
rápido, funciona paralelamente baseado em várias regras heurísticas de resposta
a estímulos específicos e consome pouca energia. Esse sistema é chamado de
Sistema 1 ou Conjunto de Sistemas Autônomos. Dizer que ele é automático
significa que ele opera sem necessidade de atenção consciente. Regra heurística
é uma forma simples de resolver um problema de maneira prática, ainda que
imperfeita, porque baseada em dados imediatos. O outro sistema, chamado de
Sistema 2 ou Sistema Analítico ou ainda Sistema Oneroso é o responsável pela
atenção consciente e processos trabalhosos de análise de dados e cálculos
complexos. Esse sistema funciona serialmente num fluxo de atenção contínuo que
requer esforço mental e é fortemente influenciado pela linguagem. Nós nos
acreditamos racionais e conscientes e, portanto, nos identificamos com nosso
Sistema Analítico. Porém, o Sistema Autônomo é quem determina a maior parte do
nosso comportamento. Inclusive, os dados com que o Sistema Analítico trabalha
são, em sua maior parte, apresentados e filtrados pelo Sistema Autônomo.
As capacidades do Sistema 1 têm duas origens. Trazemos
heurísticas inatas herdadas geneticamente e que compartilhamos com outros
animais. Somos animais e nosso cérebro evoluiu ao longo de milhões de anos para
responder automaticamente a uma série de estímulos de forma a maximizar as
possibilidades de sobrevivência. Como qualquer animal, fugimos automaticamente
(sem pensar) de situações que ameaçam a vida e buscamos automaticamente (sem
pensar) aquilo que a mantém. Mas também podemos automatizar respostas rápidas
por meio da prática prolongada. Como alguns animais, também podemos ser
domesticados ou especializados através do desenvolvimento de reações
automáticas condicionadas por meio de treinamento.
Nos vemos como seres conscientes e autônomos, nos
identificamos com nosso Sistema 2, mas quem responde, automática e
deterministicamente, pela maioria das nossas decisões é o Sistema 1. O Sistema
1 está no "front" enquanto o Sistema 2 fica desligado esperando para
ser chamado ou só atuando em caso de crise. Isso constitui duas modalidades de
atenção. Uma, característica do Sistema 1, que atua como um radar, vasculhando
o ambiente em busca de sinais de alerta. A outra, típica do Sistema 2, é a
atenção focada e exclusiva como a de uma lupa.
A atenção tipo radar é dispersa e holística no sentido de
que procura estar atenta a toda circunstância. Mas também é sintonizada para
detectar variações bruscas ou elementos pontuais, não sendo capaz de
identificar processos de mudança mais lentos ou de perceber o todo em si. A
atenção tipo radar é aquela que todos temos sem nenhum esforço. Já a atenção
tipo lupa precisa ser convocada para atuar, caso contrário permanece “desligada”
para não consumir energia. O radar, por seu turno, não é completamente
desligado. Mesmo quando a lupa é chamada a atuar no "front" o radar é
amortecido, mas fica ativo na retaguarda. Em caso de algum sinal de alerta maior
ele pode desligar a lupa do Sistema 2 e disparar uma resposta rápida do arsenal
do Sistema 1.
Este é o problema central da administração do tempo: a
qualidade da atenção que colocamos em nossos processos de decisão. De fato, não
somos escravos do tempo, mas de nós mesmos, ou melhor, deste poderoso “zumbi” dentro
de nós, responsável pela maior parte do nosso comportamento constituído por
reações automáticas do Sistema 1. Estar no controle e agir conscientemente
requer a atenção do Sistema 2. Mas o natural é reagir. Portanto, administrar
melhor o tempo significa procurar aumentar a parcela de ações conscientes no
dia-a-dia e adestrar nosso Sistema 1 para responder adequadamente num ambiente novo,
cheio de informação, que requer cada vez mais capacidade analítica na solução
de problemas cotidianos e que está cheio de armadilhas para manipular as
emoções que tanto ajudaram nossos antepassados a sobreviver na selva primal. Resumindo,
administrar o tempo é agir mais e reagir menos.
Jaime Wagner
www.powerself.com.br
Jaime Wagner
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[1] KAHNEMAN, D. (2011). Rápido
e Devagar - Duas Formas de Pensar. Rio de Janeiro: Objetiva. STANOVICH,
K. E. (2005). The Robot's Rebellion - Finding Meaning in the Age of Darwin.
Chicago: The University of
Chicago Press.