Investir é empregar tempo ou dinheiro sem visar um resultado imediato, mas sim tendo em vista um benefício maior no futuro. Gasto imediato é consumo, seja para satisfazer uma necessidade essencial ou um desejo supérfluo. Boa parte não investe simplesmente porque não ganha nem para o essencial. Mas muitos não investem porque gastam tudo em consumo supérfluo. Entretanto, para investir é preciso ter tempo ou dinheiro sobrando. Ou seja, é preciso ser rico.
Rico é quem tem mais do que precisa. Não adianta ganhar muito e gastar tudo. Esse será pobre em breve. É preciso ganhar o suficiente, além do essencial e saber controlar o desejo. A carência mais frequente não é física, mas afetiva. Por isso o problema da sociedade não é tanto a escassez de recursos para satisfazer as necessidades de todos, mas a inflação dos desejos de alguns tantos. O segredo é precisar de pouco e investir a sobra. Quem age assim gera riqueza em sua vida em mais de um sentido. Esse é o verdadeiro rico. De tempo ou de dinheiro e, no mais das vezes, dos dois.
Aliás, riqueza aparente é o gasto. Tanto mais rico é considerado quanto mais supérfluo e suntuoso é o seu gasto. Na busca da riqueza aparente, muitos se endividam e empobrecem a sua vida em muitos sentidos além do financeiro.
Paralelamente, do lado do tempo, a produtividade aparente é a ocupação. O mais ocupado, apressado e estressado parece mais produtivo. Para se sentirem mais úteis, muitos se ocupam integralmente numa rotina estressante e também empobrecem a sua vida.
Mas guardar dinheiro só por guardar é a maior loucura. Assim como permanecer num ócio estúpido ou distraído. É preciso investir a sobra – visar uma vida mais rica no futuro. O problema é que o futuro é incerto. O medo da incerteza faz com que as pessoas se aferrem ao presente, a uma rotina de trabalho rápido e consumo supérfluo.
Uma coisa é investir em si, outra é investir no outro. Ao investir no outro, multiplicamos nossas capacidades e o investimento é alavancado. Entretanto, o risco é maior. Há três formas de investir no outro: o empréstimo, a associação e o investimento de risco.
Quando eu empresto eu invisto tempo ou dinheiro, mas espero um pagamento certo num futuro determinado. Em princípio o risco está só do lado do tomador e não do prestamista. Para este, o risco é baixo, mas há necessidade de confiança (crédito). O problema do empréstimo é que o ganho futuro é tão mais baixo quanto mais garantido.
Quando eu me associo eu invisto tempo ou dinheiro por um período indeterminado e ilimitado com uma expectativa de compartilhamento proporcional dos ganhos futuros. O ganho e o risco são compartilhados. O problema da associação é o controle sobre os critérios de decisão de proporcionalidade tanto dos ganhos quanto dos eventuais prejuízos. Como as associações se fazem, em princípio, para a vida toda, o grau de confiança é muito elevado, apesar da percepção de risco ser menor. E esse risco é maior para o minoritário, que, portanto, sempre buscará aumentar o seu grau de controle.
Quando eu faço um investimento de risco eu invisto tempo ou dinheiro por um período indeterminado, mas limitado. Além disso, necessariamente, assumo um papel subalterno ou minoritário e confio que o crescimento que proporcionarei ao outro será recompensado dentro do período estipulado. O problema do investimento de risco é... o risco, que só é limitado pelo tempo.
Ou seja, o investidor de risco entra num negócio pensando em ganhar (ou perder pouco) na saída. Em contraste, um sócio entra para ficar. Além disso, o investidor de risco tem mais interesse em crescimento do que em lucratividade. Ou seja, o investidor de risco privilegia o reinvestimento e a alavancagem, enquanto o sócio privilegia a lucratividade e a distribuição de dividendos.
Muitos confundem as três formas de investimento e no Brasil há uma tradicional aversão ao risco. Recém agora está se começando a investir em Bolsa. Mas, até a Bolsa, existem outros três níveis de investimento de risco: anjo, “venture” e “private equity”. Todos visam uma participação minoritária aportando níveis crescentes de investimento e todos, além do capital aportam também expertise e networking. Entretanto, com uma dedicação menor do que a de um sócio.
O investimento anjo ou capital semente financia empresas em estágio nascente com quantias que vão de R$10 mil a R$500 mil. A saída do investidor anjo se dá pela entrada do “venture capital” ou pela compra por um sócio estratégico. O “venture capital” visa empresas em fase de consolidação e crescimento acelerado, investindo de R$500 mil a R$5 milhões. Sua saída se dá pela entrada de fundos de “private equity” ou de um sócio estratégico. Os fundos de “private equity” aportam de R$10 milhões a R$100 milhões em empresas já consolidadas que tenham potencial e apetite de crescimento e sua saída se dá no IPO ou pela venda para um sócio estratégico.
domingo, 25 de agosto de 2013
domingo, 28 de julho de 2013
Cronos e Kairos
Os gregos tinham duas palavras para referir tempo: Cronos e
Kairos. Cronos denotava o tempo quantitativo associado à medida do movimento,
contado em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos. Uma dimensão em que o
presente é um instante sem duração que avança continuamente, devorando o futuro
e deglutindo o passado. É o tempo que usamos na programação do dia-a-dia. Já
Kairos tinha o significado mais sutil de "momento certo" ou "oportuno" e refere um tempo
qualitativo, um momento de ação ou propício para agir, de maneira a alterar o
destino.
Kairos não é contado em unidades de tempo, mas em feitos, e
avança por eventos significativos. É o tempo das histórias que contamos. Kairos
não é contínuo, mas se desdobra em janelas de oportunidade em que o destino é
alterado por ação, por omissão ou por acidente.
A Índia antiga tinha as mesmas duas noções de tempo. O
equivalente em sânscrito de Cronos é Kala. O nome hindu para Kairos é Ritu. Cronos
e Kala se associam com a ideia de morte. Cronos era personificado pelos gregos como
o deus Saturno ou Júpiter, que devorava seus filhos. Kala dá o nome à deusa
Kali, que dançava sobre cadáveres com um cinto de caveiras e demandava
sacrifícios humanos em seus rituais. Já Kairos era pintado pelos gregos como um
jovem alado, que voava ou andava sempre correndo, com uma navalha na mão e que
tinha um topete e a nuca careca. As asas significavam como os momentos Kairos
eram tênues bem como agudos como a navalha, podendo ser aproveitados ou não,
pender para um lado ou outro. O topete era para que aquele que o encontrasse o
agarrasse de frente e a careca significava que aqueles por quem Kairos passou,
por mais que queiram, não conseguirão pegá-lo por trás.
Viver em Cronos é viver na rotina dos hábitos definidos pelo
relógio (a hora de acordar, de trabalhar, de comer, de dormir, de tomar banho)
e pelo calendário (o dia do jogo, o dia da festa, do aniversário, as férias, o
tempo de plantar e de colher). O redemoinho das engrenagens das rotinas
sincronizadas nos suga para satisfazer a máquina de produção e consumo da
sociedade moderna. Lutamos para entrar no redemoinho e nele ficamos contentes
por merecer um Kairos padronizado sem grandes riscos e surpresas: nascer,
brincar, estudar, formar-se, arrumar emprego, casar, ter filhos, construir
casa, comprar carro, formar filhos, aposentar-se, brincar de novo, adoecer e
morrer.
Vivemos em Cronos, mas somos Kairos. As realizações que nos
orgulham e nos constituem, via de regra, fogem à rotina. Os infortúnios que nos
afetam também.
Em 1985 um grupo de líderes religiosos negros da África do
Sul redigiu o Manifesto Kairos em resposta ao endurecimento do Apartheid, que
começava assim: “O tempo é agora. Chegou o momento da verdade.” O Manifesto evocava
a ideia de um tempo maduro para a mudança no sentido do avanço ou do
retrocesso, dependendo da ação ou da inação. Mas os momentos Kairos não
precisam ser dramáticos, trágicos ou heroicos. Podem ser também pequenos
momentos na vida de uma pessoa, vividos com plenitude ou em estado de fluxo.
Aqueles momentos perfeitos que ficam para sempre na nossa lembrança.
Cronos e Kairos têm ritmos complementares. Se Cronos tarda a
passar, Kairos se acelera. Os dias são longos, mas as crianças cresceram e se
foram. As semanas de trabalho são intermináveis, mas chafurdamos na rotina para
ganhar a vida e nem notamos como ela passou depressa, exceto pelas rugas e
cabelos brancos – as marcas de Cronos.
Da mesma forma quando Kairos tem um ritmo intenso Cronos parece
se estender. Como aconteceram coisas neste último ano: compramos a casa,
iniciamos a empresa, o filho foi morar longe, o pai morreu! Parece que foi uma
década!
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Os Três Motivos dos Políticos
17/2/2013
Vivemos em duas esferas: a privada e a pública. Estamos na esfera privada quando cuidamos das nossas coisas e assuntos individuais. Passamos à esfera pública sempre que atendemos os interesses dos demais. Ação política é justamente a ação na esfera pública.
Os três grandes veículos da ação pública são o Estado (executivo, legislativo e judiciário), o mercado (empresas) e a sociedade organizada (igrejas, sindicatos, associações, ONGs, condomínios). Estas instituições canalizam e orientam, estimulando e limitando, a ação pública de todos os indivíduos.
A ação privada, por seus efeitos, é muito mais egoísta do que a ação pública. A grande maioria da população vive na esfera privada e só age na esfera pública motivada pelo interesse próprio, trabalhando em troca de dinheiro ou subsistência. Paradoxalmente, costuma condenar o interesse próprio dos indivíduos que têm um papel mais atuante na esfera pública: políticos, empresários e dirigentes de organizações sociais. Se computarmos o investimento de tempo e o benefício público das ações dos que criticam e dos que são criticados a injustiça da crítica se evidencia.
Quem age na esfera pública se expõe à crítica. Do síndico ao presidente da república. A crítica motivada pela inveja é um ônus inútil puramente destrutivo. Já o protesto motivado pelo interesse próprio dos que criticam é construtivo, pois o consenso possível entre interesses conflitantes faz a boa política. Ambas as críticas são formas de participação política, mas a defesa do interesse próprio é ativa, enquanto a crítica destrutiva tende a ser mais passiva.
Há três motivações para a ação política: o interesse próprio, a vaidade e o espírito público.
Das três motivações mencionadas, o interesse próprio é o mais mal visto. Entretanto, além de ser o mais frequente é o mais legítimo. No limite, o interesse próprio é puramente individual – egoísmo puro. Mas a ação pública visando o benefício próprio não implica necessariamente prejuízo para os demais. Aliás, quem presta um serviço motivado apenas pelo salário faz exatamente isso. Também pode ser condenável a ação em benefício da família ou do grupo – o corporativismo. Entretanto, a representação de interesses de classe ou grupo é exatamente a base do sistema legislativo. Inclusive, o objetivo de muitas entidades da sociedade organizada é exatamente exercer influência e participar da ação legislativa.
A vaidade é tão mal falada quanto frequente. Realmente, a função pública vem acompanhada da notoriedade, corolário da exposição. Em comparação com quem busca a fama pela fama, apenas pela exposição de sua intimidade em “reality shows”, o reconhecimento que o serviço público recebe é uma honra digna. Que isso envaideça é compreensível. Que o reconhecimento se torne um fim em si mesmo pode ser condenável como um vício vão, mas que pode, paradoxalmente, ensejar ações nobres com grande benefício público.
O espírito público, a noção transcendente do valor de servir é saudada como uma das mais nobres virtudes morais. Esta transcendência é característica do idealista, que coloca um ideal acima do interesse próprio e imediato. Porém, mesmo distante do interesse próprio, o idealista prescreve aos demais a virtude que pratica. E, muitas vezes, no exercício do poder público, além de prescrever, impõe.
Concluindo, todos temos alguma ação na esfera pública, que, numa ótica utilitarista, é a origem do valor pessoal. As virtudes privadas constituem outra fonte de valor, que, entretanto, não geram benefícios públicos. Falar mal da política e dos políticos em nome da virtude moral é uma ação política. E a mais fraca, senão a mais desprezível de todas.
Vivemos em duas esferas: a privada e a pública. Estamos na esfera privada quando cuidamos das nossas coisas e assuntos individuais. Passamos à esfera pública sempre que atendemos os interesses dos demais. Ação política é justamente a ação na esfera pública.
Os três grandes veículos da ação pública são o Estado (executivo, legislativo e judiciário), o mercado (empresas) e a sociedade organizada (igrejas, sindicatos, associações, ONGs, condomínios). Estas instituições canalizam e orientam, estimulando e limitando, a ação pública de todos os indivíduos.
A ação privada, por seus efeitos, é muito mais egoísta do que a ação pública. A grande maioria da população vive na esfera privada e só age na esfera pública motivada pelo interesse próprio, trabalhando em troca de dinheiro ou subsistência. Paradoxalmente, costuma condenar o interesse próprio dos indivíduos que têm um papel mais atuante na esfera pública: políticos, empresários e dirigentes de organizações sociais. Se computarmos o investimento de tempo e o benefício público das ações dos que criticam e dos que são criticados a injustiça da crítica se evidencia.
Quem age na esfera pública se expõe à crítica. Do síndico ao presidente da república. A crítica motivada pela inveja é um ônus inútil puramente destrutivo. Já o protesto motivado pelo interesse próprio dos que criticam é construtivo, pois o consenso possível entre interesses conflitantes faz a boa política. Ambas as críticas são formas de participação política, mas a defesa do interesse próprio é ativa, enquanto a crítica destrutiva tende a ser mais passiva.
Há três motivações para a ação política: o interesse próprio, a vaidade e o espírito público.
Das três motivações mencionadas, o interesse próprio é o mais mal visto. Entretanto, além de ser o mais frequente é o mais legítimo. No limite, o interesse próprio é puramente individual – egoísmo puro. Mas a ação pública visando o benefício próprio não implica necessariamente prejuízo para os demais. Aliás, quem presta um serviço motivado apenas pelo salário faz exatamente isso. Também pode ser condenável a ação em benefício da família ou do grupo – o corporativismo. Entretanto, a representação de interesses de classe ou grupo é exatamente a base do sistema legislativo. Inclusive, o objetivo de muitas entidades da sociedade organizada é exatamente exercer influência e participar da ação legislativa.
A vaidade é tão mal falada quanto frequente. Realmente, a função pública vem acompanhada da notoriedade, corolário da exposição. Em comparação com quem busca a fama pela fama, apenas pela exposição de sua intimidade em “reality shows”, o reconhecimento que o serviço público recebe é uma honra digna. Que isso envaideça é compreensível. Que o reconhecimento se torne um fim em si mesmo pode ser condenável como um vício vão, mas que pode, paradoxalmente, ensejar ações nobres com grande benefício público.
O espírito público, a noção transcendente do valor de servir é saudada como uma das mais nobres virtudes morais. Esta transcendência é característica do idealista, que coloca um ideal acima do interesse próprio e imediato. Porém, mesmo distante do interesse próprio, o idealista prescreve aos demais a virtude que pratica. E, muitas vezes, no exercício do poder público, além de prescrever, impõe.
Concluindo, todos temos alguma ação na esfera pública, que, numa ótica utilitarista, é a origem do valor pessoal. As virtudes privadas constituem outra fonte de valor, que, entretanto, não geram benefícios públicos. Falar mal da política e dos políticos em nome da virtude moral é uma ação política. E a mais fraca, senão a mais desprezível de todas.
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