Todos têm princípios: crenças sobre o que é verdadeiro. Todos têm valores: crenças sobre o que é certo. Nem sempre em harmonia, princípios e valores embasam a identidade de qualquer um.
Embora toda crença seja parcial, toda base precisa ser sentida como firme. Não é a base que precisa ser certa e firme – é o sentimento que precisa ser convicto. Convicção é um sentimento entranhado e visceral, com lugar e temperatura. Embaixo (na barriga – intestino) é fria. Em cima (na cabeça – cérebro) é morna. No centro (no peito – coração) é quente. Intestino, coração e cérebro – vísceras. Miúdos, diria o açougueiro. Similares em aparência, outra semelhança os une: são o lugar da convicção.
Há certezas que contrariadas dão um frio na barriga. Essas são filhas do medo. Medo da perda. Quem as cria? O pai, o patrão, todo aquele, enfim, de quem dependemos, que nos garante a vida ou o sustento. Essas certezas são rígidas. Abaladas se quebram. E há o medo de que com elas se quebre também a identidade e a integridade.
Há a convicção do entusiasmo, o calor no peito de um coração quente. Certeza que vem da confirmação dos correligionários, dos irmãos, dos iguais. Crença compartilhada aos hurras e expressa em gestos, que enleva, irmana e embebe a todos. Porém volúvel, varia ao sabor das companhias e das maiorias de ocasião.
Por fim há a convicção que emana da reflexão (solitária) e do diálogo (com o oposto). Seu lugar é a cabeça, sua víscera é o cérebro. Certeza provisória, flexível e morna, quase fria.
Convicções sempre viscerais, portanto. Mas com a maturidade parece que as certezas vão subindo no corpo e buscando um meio termo.
terça-feira, 13 de maio de 2008
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Vida requer Subjetividade
Digo que tempo é vida, mas isto é verdade apenas no sentido particular: o meu tempo é a minha vida. No sentido geral, vida não é tempo. Vida não é apenas duração. A pedra não tem vida. Vida requer animação, não apenas movimento. "Anima" - alma - toda vida tem alma, requer ação, movimento intencional. Não apenas um fluxo de eventos objetivos "cheio de fúria e sem significado". Vida requer intencionalidade, subjetividade. O tempo, definido como fluxo de eventos, para que se constitua em vida, requer subjetividade. Precisa que se agreguem aos eventos objetivos do universo externo a mim, todos os eventos subjetivos do meu universo interior: da minha alma, da minha consciência, do meu cérebro racional e emocional.
Mas subjetividade num sentido lato. No sentido em que se pode considerar subjetiva a intenção da planta de buscar a luz. Pode-se dizer que a planta quer a luz. Mas não se pode dizer que o rio quer o mar. Em ambos os casos há movimento dirigido e explicável pelas leis naturais, mas no rio não há vida e na planta sim.
Mas o que há de subjetividade no fototropismo de uma planta? Ora, não basta encerrar um fenômeno numa explicação científica para retirar-lhe a magia da subjetividade incognoscível. Reconhecer o fototropismo como fenômeno, não retira a dramaticidade da vida de uma árvore contorcida que, das gretas, cresceu lentamente e lutou contra todos os obstáculos, em busca da luz.
O que é objetivo é observável. Já o reino da subjetividade alheia, por definição, é incognoscível. Tudo o que podemos saber da subjetividade do outro é fruto da projeção da nossa própria vida subjetiva.
E subjetividade é drama. É a luta da intenção contra os limites do real. É o dever ser e o querer ser opondo-se ao que apenas está. Mas na raiz mesma deste drama está o seu poder transformador, sua capacidade de influir na lógica fria das causas e efeitos, na cadeia das ações e reações. É a subjetividade que dá sentido, que através da escolha, da ação objetiva comandada por uma vontade subjetiva, empurra o fluxo de eventos objetivos no sentido do que deve ser porque ainda não é. É através da subjetividade que o futuro adquire um sentido como finalidade. Senão ele seria apenas um sentido determinado, ou melhor, a completa falta de sentido. É a subjetividade que cria a possibilidade para além da probabilidade, que manipula o determinismo de acordo com a vontade.
* texto escrito em setembro de 2000
Mas subjetividade num sentido lato. No sentido em que se pode considerar subjetiva a intenção da planta de buscar a luz. Pode-se dizer que a planta quer a luz. Mas não se pode dizer que o rio quer o mar. Em ambos os casos há movimento dirigido e explicável pelas leis naturais, mas no rio não há vida e na planta sim.
Mas o que há de subjetividade no fototropismo de uma planta? Ora, não basta encerrar um fenômeno numa explicação científica para retirar-lhe a magia da subjetividade incognoscível. Reconhecer o fototropismo como fenômeno, não retira a dramaticidade da vida de uma árvore contorcida que, das gretas, cresceu lentamente e lutou contra todos os obstáculos, em busca da luz.
O que é objetivo é observável. Já o reino da subjetividade alheia, por definição, é incognoscível. Tudo o que podemos saber da subjetividade do outro é fruto da projeção da nossa própria vida subjetiva.
E subjetividade é drama. É a luta da intenção contra os limites do real. É o dever ser e o querer ser opondo-se ao que apenas está. Mas na raiz mesma deste drama está o seu poder transformador, sua capacidade de influir na lógica fria das causas e efeitos, na cadeia das ações e reações. É a subjetividade que dá sentido, que através da escolha, da ação objetiva comandada por uma vontade subjetiva, empurra o fluxo de eventos objetivos no sentido do que deve ser porque ainda não é. É através da subjetividade que o futuro adquire um sentido como finalidade. Senão ele seria apenas um sentido determinado, ou melhor, a completa falta de sentido. É a subjetividade que cria a possibilidade para além da probabilidade, que manipula o determinismo de acordo com a vontade.
* texto escrito em setembro de 2000
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